quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Verdadeira Revolução Proposta em Zeitgeist II



Os filmes Zeitgeist, são documentários produzidos com a intenção de despertar as pessoas para questões pouco tratadas, assuntos que representam através da manipulação midiática, a força econômica de poderosas instituições. São dirigidos por Peter Joseph, fundador do The Zeitgeist Movement que possui mais de 30 000 inscritos no mundo todo, sendo mais de 5 000 em Portugal, 8 000 inscritos no Brasil e 11 000 na Argentina. Joseph distribui os vídeos gratuitamente na internet, como forma de atingir maior alcance de informações. Zeitgeist: Addendum (2008) é o segundo dos documentários; dá continuidade a Zeitgeist: The Film (2007) e é sequenciado por Zeitgeist: Moving Forward (2011). Passando por assuntos como o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, a CIA, grandes corporações, governos e religião, Zeitgeist II expande com extrema riqueza os tratados feitos no primeiro filme. Como seria inevitável, a grande máquina do capitalismo também faz parte de seu contexto, visto que a busca pelo lucro e as atitudes desleais em busca de objetivos pouco humanitários é a essência da sociedade contemporânea.





Zeitgeist: Addendum

“Veremos o quão importante é trazer para a mente humana a revolução radical. [...] Essa crise não pode mais aceitar as velhas normas, os velhos padrões, as antigas tradições. E, considerando o que o mundo é hoje, com toda a miséria, conflito, brutalidade destrutiva, agressão [...] O homem ainda é o mesmo de antes. Ainda é bruto, violento, agressivo, acumulador, competitivo. Ele construiu uma sociedade nestes termos”. É com essas palavras de Jiddu Krishnamurti que inicia-se Zeitgeist: Addendum, propondo que uma grande transformação na sociedade só será possível quebrando-se a hegemonia escravocrata que o sistema financeiro mundial impôs sobre a humanidade.



Parte I

“Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.” (Jiddu Krishnamurti - Filósofo, Escritor, e Educador Indiano)


Na parte inicial, o Sistema Monetário é apresentado como a instituição que controla e oprime todos os patamares da vida social no mundo. Exibe a forma como age o sistema bancário estadunidense chamado Reserva Federal criando dinheiro do nada e obtendo cada vez mais lucro num processo cíclico de geração de riqueza e exploração. Num sistema de reservas fracionadas, a moeda sempre é depreciada e títulos de dívidas, sob posse dos bancos, é o único produto que cresce em valor. Como o dinheiro depreciado circula livremente no comércio e com valor real cada vez menor, os preços são elevados e as pessoas precisam competir por empregos e trabalhar cada vez mais para custear suas despesas. Tudo isso é gerado pela realização de empréstimos e já ocorre sem que a cobrança de juros seja considerada, gerando um sistema de endividamento perpétuo e inevitável num sistema moderno de escravidão. Marriner Eccles, Governador da Reserva Federal, afirmou, em 1941: “Se não houvesse dívidas em nosso sistema financeiro, não haveria dinheiro”.


Parte II

“Há dois modos de subjulgar e escravizar uma nação. Um é pela força, o outro é pelas dívidas.” (John Adams – Segundo Presidente dos Estados Unidos)


Na segunda parte é mostrado como trabalham os “assassinos econômicos”. São agentes que estimulam líderes de países com recursos como o petróleo, a realizar enormes empréstimos ao Banco Mundial, adquirindo uma dívida que a população não consegue pagar. Através do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial a dívida é renegociada com juros obrigando o país a vender suas estatais e recursos naturais ou prestar apoio militar, dentro ou fora de seu território. Na década de 50, no Irã, Mohammad Mossadegh foi eleito democraticamente com a bandeira de que o petróleo iraniano deveria servir ao povo do Irã, mas foi deposto através de um plano arquitetado pela CIA e substituído por um líder que apoiava intervenções. Na mesma década, na Guatemala, Árbenez tornou-se presidente afirmando que queria devolver a terra para as pessoas, numa afronta ao domínio da United Fruit e outras corporações internacionais. Ao iniciar as ações que realizariam o que prometeu, Álbenez foi alvo de uma campanha estadunidense para tirá-lo do poder, e assim aconteceu. Em seguida, seu sucessor devolveu todo o poder às empresas que Álbenez combatia. Caso semelhante aconteceu também no Equador, na década de 80, onde Jaime Roldós foi assassinado após negar-se a participar de negócios envolvendo o petróleo equatoriano. Omar Torrijos, Presidente do Panamá, teve o mesmo fim. Em ambos os casos as mortes envolveram supostos acidentes aéreos. Uma tentativa fracassada foi realizada na Venezuela, de Hugo Chávez, e outra com sucesso no Iraque, culminando na morte de Saddam Hussein. Os eventos são narrados por John Perkins, que afirma existir mais escravidão hoje no mundo do que em qualquer outra época, onde os “imperadores” são os que gerenciam as grandes empresas, controlando a mídia e a maioria dos políticos via financiamento de campanhas e doações pessoais.


Esse sistema permite o controle de um país através da dívida, impondo condições como desvalorização da moeda, corte no financiamento de programas sociais (como educação e saúde), privatização de empresas públicas, liberação do comércio ou abertura da economia. Alguns dados demonstram as desigualdades crescentes no mundo e motivados por essas ações; enquanto o PIB global cresceu 40% entre 1970 e 1985, a margem de pessoas na faixa de pobreza cresceu 17%. Uma das causas é a forma como o dinheiro de um país é utilizado de forma inadequada. De acordo com o centro nacional anti-terrorismo dos Estados Unidos, cerca de 2 000 pessoas foram mortas em supostos atos terroristas em 2004; desse número, apenas 70 eram estadunidenses, enquanto o dobro de pessoas morrem de alergia a amendoim por ano e a causa principal de mortes no país são as doenças coronárias (450 mil mortes por ano). Ainda assim, os fundos destinados para o governo nessa área foram de cerca de 3 bilhões de dólares, ou seja, 54 vezes mais foi investido no combate ao “terrorismo” que no controle da doença que mata 6 600 mais que o terrorismo. Um outro fato interessante também citado é que antes de 1980 o Afeganistão produzia 0% do ópio mundial; após ser apoiado pelos Estados Unidos e pela CIA passaram a produzir, em 1986, 40% da heroína mundial, e em 1999 estavam produzindo 80% do total do mercado. Em 2000 os talibãs assumiram o poder e destruíram a maioria dos campos de ópio derrubando a produção de 3 000 toneladas para 185 (redução de cerca de 94º). Em 9 de setembro de 2001 os planos para invadir o país estavam na mesa do presidente Bush, e dois dias depois tinham uma desculpa para fazê-lo. Hoje, o Afeganistão fornece cerca de 90% da heroína do mundo, quebrando recordes ano após ano.


Parte III

“A ganância e a corrupção não são o resultado de um temperamento humano imutável. Ganância e medo da escassez na verdade são criados e ampliados. A consequência direta disso é que temos que lutar uns com os outros para sobreviver.” (Bernard Lietaer – Fundador do Sistema Monetário dos Estados Unidos)


Jacques Fresco, desenhista industrial e engenheiro social, inicia a terceira parte falando sobre o comportamento humano. Fresco defende que o comportamento das pessoas está diretamente ligado ao ambiente em que estão inseridas, então um mundo cruel, violento e desumano apenas produzirá esse tipo de perfil social. Se o modo de vida que temos é o responsável pela violência e tantos outros males da sociedade, as grandes questões de debate hoje não possuem o menor vestígio de solução para os problemas que vivemos e apenas uma mudança cultural do ser humano poderia dar início a grande revolução que todos (ou quase todos) precisam. Segundo Fresco, os governos perpetuam aquilo que o mantém no poder e são eleitos para manter as coisas como estão, não para melhorá-las. Como as pessoas não conhecem outro modo de vida, defendem que essa postura seja permanente quaisquer que sejam seus líderes. Ele afirma ainda que a corrupção faz parte da sociedade e que ela é base de todas as nações, pois lutam pra conservar esse sistema. Logo, comunismo, socialismo, fascismo, neoliberalismo e todos os outros subsistemas são a mesma coisa e tem como base a corrupção. A busca pelo lucro seria a essência de tudo isso, fazendo as pessoas desacreditarem umas nas outras, pois é de conhecimento de muitos que a indústria não se importa com as pessoas e não pode ser ética. O sistema não foi projetado para servir as pessoas, mas ao dinheiro. Nessa ótica, a China comunista é tão capitalista quanto os Estados Unidos, mudando apenas o grau de interferência do governo nas empresas do país. Portanto, a corrupção não é um subproduto do monetarismo, é a sua base, e nesse processo o dinheiro, a política, a religião não tem poder algum, a tecnologia é a resposta. De acordo com essa ideia, a tecnologia seria o maior potencial para o desenvolvimento mundial e esta funciona hoje a serviço da produção de escassez de recursos básicos e como alimento para a força do capitalismo, produzindo necessidades supérfluas e mais miséria.

Jacques Fresco e uma Proposta de Construção do Projeto Vênus


Fresco é o homem a frente do Projeto Vênus, cujo ideal se caracteriza pela remodelação dos valores sociais que temos hoje, em diversos aspectos, inclusive sobre a ideia de sustentabilidade. O Venus Project existe desde os anos 70, mas a organização só foi fundada em 1995 por Fresco e Roxanne Meadows, recebendo esse nome em homenagem a cidade de Venus (Flórida, EUA) onde se localiza seu centro de pesquisa, com mais de 100 000 m2 de extensão. Além do centro, vídeos, panfletos e o livro “The Best That Money Can't Buy: Beyond Politics, Poverty, and War”, foram construído para expandir as propostas do Venus. Um filme será produzido, simulando as consequências da adesão ao projeto; cidades experimentais também serão construídas além de um parque temático. De acordo com o Venus Project as formas de energia usadas atualmente o fazem apenas em benefício do capital, outras fontes tornariam obsoletas a competição e a escassez. Como referência podemos usar o fato de que em uma hora de luz ao meio-dia se produz mais energia do que o mundo consome em um ano, e captando um centésimo dessa energia nunca mais seria necessário usar petróleo, gás ou qualquer outra fonte limitada e poluente. Ainda existem outras alternativas, como a energia eólica, das marés e geotérmica. “Há uma propensão, por sua religião e filosofia dominantes, de apoiar pontos de vista fascistas, e a indústria americana é basicamente uma instituição fascista”, afirma Jacques. A mão de obra, a prestação de serviço e tantos outros aspectos ligados à industria são armas para a exploração e nunca seremos livres se o sistema vigente não for destruído.


Parte IV

“Minha pátria é o mundo, e minha religião é fazer o bem.” (Thomas Paine – Um dos Fundadores dos Estados Unidos da América)


No trecho final, o documentário apresenta a ideia de que os males que corroem a vida das pessoas se dão pela ignorância coletiva referente a duas percepções sobre a realidade: os aspectos “emergentes” e o “simbióticos” das leis da natureza. Nesse sentido, as religiões teistas teriam um papel retrógrado e de irrelevância social, pois condicionam as pessoas a uma visão de mundo fechada, onde a lógica e novas informações são rejeitadas em função de crenças tradicionais e atrasadas. “Antigamente as pessoas não sabiam como as coisas se formavam, como a natureza funcionava [...] e inventaram Deus à sua própria semelhança: um sujeito que fica bravo quando as pessoas não se comportam bem, que cria inundações, terremotos [...]”, diz Jacques Fresco. Uma demonstração de que crenças religiosas causaram mais divisão e conflito que qualquer outra ideologia é o cristianismo, que possui mais de 34 mil subgrupos. É necessário alcançar a concepção de que cada pessoa e cada fragmento da natureza faz parte de uma unidade, mas não na mesma ideia proposta pela religião; é preciso trabalhar juntos para construir uma sociedade global e sustentável, onde cuidamos de todos e todos são livres. As crenças pessoais não contribuem para isso, separam humanidade, e políticos também são inúteis pois os problemas que temos não são políticos. Algumas sugestões são apresentadas para desestabilizar esse sistema:


  • Boicotar grandes instituições bancárias como Citibank, JP Morgan Chase e Bank Of America;
  • Desligar-se do noticiário da TV e consultar fontes de notícia independentes de notícia na internet;
  • Não se alistar no exército, que trabalha para manter o establishment do sistema vigente;
  • Parar de sustentar companhias de energia, fazendo de seu lar um ambiente o mais autossustentável possível;
  • Rejeitar o sistema político, que prega a ilusão da democracia;
  • Juntar-se ao Movimento Zeitgeist, mobilizando e educando as pessoas sobre a corrupção presente no sistema mundial atual.


Os Estados Unidos dão uma demonstração de como os esforços das pessoas são consumidos erroneamente, gastando cerca de 500 bilhões de dólares todo ano com defesa, dinheiro suficiente para enviar todos os graduandos de ensino médio para uma faculdade de quatro anos. Para mudar tudo isso é imprescindível mudar nosso comportamento para que a estrutura do poder seja submetido à vontade das pessoas. A única verdadeira solução sustentável é declarar todos os recursos naturais no planeta como bem comum a todas as pessoas, pois é dele que depende a tecnologia que tornaria todos livres, trabalhando juntos em vez de brigar. A escolha está com cada um. Ser escravo do sistema financeiro, assistindo a guerras, depressões e injustiças enquanto se distrai com entretenimento fútil e lixo materialista ou dedicar-se a uma mudança verdadeira de sustentar e libertar todos os humanos, sem deixar ninguém para trás? A verdadeira revolução é a revolução da consciência, portanto a primeira mudança deve ocorrer dentro de cada um. Após essa narração do diretor Peter Joseph, são novamente as palavras de Jiddu Krishnamurti que encerram o documentário:

“O que estamos tentando, com toda essa discussão e retórica, é ver se não podemos fazer acontecer uma radical transformação da mente. Não aceitar as coisas como elas são, entendê-las, mergulhar nelas, examiná-las. Use seu coração, sua mente, tudo o que você tem pra descobrir um jeito diferente de viver. Mas, isso depende de você e de mais ninguém. Por que nisso não há professor, nem aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador, você mesmo é o professor, o aluno, o mestre, o guru, o líder, você é tudo. E, entender é transformar o que há”.

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