domingo, 6 de maio de 2012

Quadrinhos x Cinema


Facilmente, podemos perceber como o cinema tem aumentado seus investimentos em adaptações de histórias em quadrinhos, até chegar ao patamar impressionante que temos atualmente. Muitas HQs foram alvos da onda que tem atingido as bilheterias de todo o mundo, a exemplo de: 300, Capitão América, Conan, Constantine, Demolidor, Dragon Ball, Elektra, Hellboy, Homem Aranha, Homem de Ferro, Hulk, Jonah Hex, Justiceiro, Lanterna Verde, Motoqueiro Fantasma, Quarteto Fantástico, Sin City, Spirit, Super-Homem e Thor.


Para quem nunca leu uma história desses personagens assistir esses filmes tem sido uma grande sensação, ou tão satisfatório quanto ver vários outros filmes de ação e aventura, mas, para os fãs do mundo dos quadrinhos, cada produção dessa é motivo para uma experiência sem igual, onde cada detalhe faz uma enorme diferença na forma como o filme é visto. Entretanto, não são pequenos detalhes que têm destacado a diferença entre uma boa e uma má adaptação, absurdos têm feito parte de algumas produções ao ponto de mal reconhecermos os personagens usados como referência (é tudo que alguns foram em situações mais críticas, referência). O que dizer de um Homem Aranha babaca, de um Homem de Ferro lutando no Afeganistão, de um Hal Jordan brincalhão ou do Deus do Trovão dando uma piscadinha pra sua mãe durante uma cerimônia em Asgard? Dada a ambição dos estúdios com a diversidade do público que irão atingir, seria uma grande novidade que em, pelo menos, boa parte dessas filmagens as histórias dos gibis fossem melhor consideradas.


Tomemos aqui com mais precisão o que foi feito com Batman, Watchmen e X-Men, da década de 80 até hoje.


O primeiro filme de Batman, considerando o período citado, foi Batman – O Filme (1989), que contou com a direção de Tim Burton teve Michael Keaton no papel do Homem Morcego. Como Keaton tinha seu rosto ligado à personagens de comédia, muito fã torceu o nariz para a escolha. Também fizeram parte do cast nomes como Jack Palance, Kim Basinger e Jack Nicholson, que retratou como ninguém o Coringa das histórias em quadrinhos. A direção de Burton deu uma atmosfera obscura ao filme, mergulhando os telespectadores numa profunda abstração do ambiente de Gotham City. Batman – O Retorno (1992) foi o segundo filme da série, onde Pinguim (Danny DeVito) e Mulher Gato (Michelle Pfeiffer) foram os vilões. Algumas cenas de violência e sensualidade foram marcantes, além de toda ambientação presente no filme anterior. Esses dois ótimos filmes marcaram a passagem de Tim Burtom e Michael Keaton pelas histórias de Batman, pois em Batman Eternamente (1995) a direção ficou a encargo de Joel Schumacher e o papel do Morcego foi assumido por Val Kilmer. Os dois tiveram a péssima ideia de fazer parte dessa produção que contou com a participação de personagens como Charada (Jim Carrey), Duas-Caras (Tommy Lee Jones) e Robin (Chris O'Donnell), em sua primeira aparição na série. Edward Nygma e Harvey Dent estavam irreconhecíveis nessa que foi uma das piores histórias feitas para Batman nos cinemas, superada em degradação apenas pela versão seguinte, Batman & Robin (1997). Novamente com a direção de Joel Schumacher, o personagem foi exposto a uma história ridícula, envolvendo os vilões Bane (Jeep Swenson), Hera Venenosa (Uma Thurman) e Mr. Freeze (Arnold Schwarzenegger). Chegou a ser indicado para Pior Filme na cerimônia do Framboesa de Ouro. George Clooney fez o papel do herói enquanto Chris O'Donnell continuou como o menino prodígio e Alicia Silverstone representou a Batmoça.

Batman - O Filme
Batman - O Retorno

Batman Eternamente
Batman & Robin


Com o fracasso de Batman & Robin, a Warner Bros não manteve o interesse de fazer uma continuação. Porém, em 2005, foi lançado Batman Begins, dirigido por Christopher Nolan e estrelado por Christian Bale como Batman. Neste, a proposta era contar a história de Bruce Wayne e sua trajetória até assumir o manto do morcego. Numa perspectiva de mais realismo que as versões de Tim Burton, recebeu uma continuação 3 anos depois: O Cavaleiro das Trevas. Nolan e Bale repetiram suas funções neste filme onde o Heath Ledger cativou o público no papel do Coringa. Ledger é dito por muitos como o melhor a atuar como o palhaço, no entanto, não é possível comparar sua atuação com a de Jack Nicholson porque as propostas dos dois filmes eram bastante diferentes. As versões de Burton tinham uma caracterização mais surreal, enquanto as de Nolan prezaram por uma aproximação maior com a realidade e pelo uso de certos incrementos (como um batmóvel que parece um tanque de guerra e uma moto de proporções bem exageradas).


Batman Begins
O Cavaleiro das Trevas


Watchmen - O Filme veio da história em quadrinhos de mesmo nome criada pelo fantástico Alan Moore. O criador da HQ é um crítico inveterado das versões cinematográficas para histórias em quadrinhos, chegando a abrir mão de todos os direitos sobre as histórias só para não ter seu nome envolvido com as produções. Criador também de V de Vingança e roteirista de vários personagens consagrados (O Monstro do Pântano, Superman, Lanterna Verde), Moore chegou a afirmar: “[...] o cinema na sua forma atual é muito prepotente. Ele nos dá comida na boca, o que dilui nossa imaginação cultural coletiva. É como se fôssemos passarinhos recém-saídos dos ovos olhando pra cima, com nossas bocas bem abertas, esperando que Hollywood nos alimente com um vômito de vermes”. Do Inferno e Liga Extraordinária também foram adaptações de suas HQs. Watchmen, uma das melhores HQs de todos os tempos, teve sua versão para o cinema sob a direção de Jack Snyder, que também dirigiu o péssimo 300. Porém, o mesmo não afetou a história dos “Homens Minuto”, deslumbrante em vários aspectos, dentre eles: a escolha dos atores, a trilha sonora, a história, os uniformes dos heróis, os efeitos usados na medida certa. Foi a melhor versão cinematográfica de uma história em quadrinhos.


Alan Moore
Watchmen - O Filme

Homens Minuto


Com X-Men, a história não foi a mesma. Os heróis mutantes tem recebido péssimas versões, com mudanças esdrúxulas no perfil e na história de seus personagens, em todas as produções. Em X-Men – O Filme (2000) já presenciamos algo abominável como eixo da história: Magneto tentando transformar a ração humana, que ele odeia, em mutantes, sua espécie; algo extremamente contraditório. Um roteiro fraco, com personagens pouco interessantes e uma péssima escolha de atores, com exceção de Patrick Stewart (Charles Xavier), Hugh Jackman (Wolverine), James Marsden (Ciclope) e alguns outros poucos. É degradante ver Ian McKellen no papel de Magneto, Halle Berry como tempestade, Anna Paquin interpretando uma vampira inexistente nos quadrinhos e Rebecca Romijn na pele (literalmente na pele, apenas) de uma Mística usada como cão de guarda de Magneto. Nesses últimos dois casos o problema não estava diretamente nas atrizes, mas com os personagens do filme. A direção ficou por conta de Bryan Singer, diretor também de X-Men 2 (2003), onde o foco continua sendo o confronto entre humanos e mutantes, provocando uma aliança entre Magneto e Xavier. Bryan Singer deixou a direção depois de X2 para assumir Superman – O Retorno (outro desprestígio ao mundo dos quadrinhos), então Brett Ratner assumiu o posto em X-Men – O Confronto Final (2006). O terceiro filme não abandonou a mesmice dos outros dois, tratando ainda da rixa entre humanos comuns e a raça mutante. Também usou muito mal a aparição da Fênix, personagem de grande poder que teve uma participação num enredo bastante discreto, aquém do que merecia. Em todos esses filmes poucos vilões, considerando a diversidade e a riqueza das HQs, tiveram espaço; enquanto Magneto e sua Irmandade de Mutantes não saem de cena. Com o intuito de focar o passado de Wolverine, surge o quarto filme da franquia, X-Men Origens: Wolverine (2009), que também não impressiona. Gavin Hood dirigiu essa produção onde Hugh Jackman se destaca no papel principal, Taylor Kitsch (Gambit) quase não aparece e Ryan Reynolds (Deadpool) recebe uma excessiva relevância.

X-Men - O Filme
X-Men 2

X-Men - O Confronto Final
X-Men Origens: Wolverine


Baseando-se no início da relação do Professor X com Magneto e suas respectivas equipes, X-Men e Irmandade de Mutantes, X-Men – Primeira Classe (2011) também destaca os integrantes do Clube do Inferno (Sebastian Shaw, Emma Frost, Satânicos). Matthew Vaughn foi incumbido da direção. Apesar de possuir um enredo melhor que a franquia anterior, alguns aspectos desagradam em todas as produções. Uma delas é a relutância em não usar a formação original dos pupilos de Xavier: Ciclope, Jean Grey, Anjo, Gelo e Fera. Os uniformes criados para os 4 primeiros filmes foram uma afronta a qualquer leitor dos quadrinhos mutantes; no último filme, a “veia criativa” dos produtores foi mais moderada. As fugas constantes da história original também frustram qualquer fã incondicional de X-Men.


X-Men - Primeira Classe


Muitas “adaptações” para o cinema estão sendo produzidas ou planejadas, e todos os anos teremos os cinemas invadidos por leitores de revistas em quadrinhos (minoria) e “degustadores” de filmes de ação financiando o sucesso de filmes pouco originais e bastante superficiais. Talvez Alan Moore tenha razão...

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