“A mente humana é um sistema
muito complicado. Desequilibre esse sistema com falta de oxigênio, drogas ou
religião e você terá resultados perigosos.” (Landis D. Ragon)
Uma das questões mais
debatidas em diversos segmentos da humanidade é a espiritualidade. Não pela
importância, mas pelo volume, inevitavelmente o tema nos conduz à religiosidade
e sua importância para humanidade. A fé de um indivíduo não pode ser discutida,
pois representa a crença em algo mesmo que não se tenha provas para tanto.
Porém, não se deve adotar o mesmo posicionamento para as religiões, cujas
características podem ser vistas, sentidas, analisadas e são, portanto,
passíveis de discussão. Será que a humanidade não pode viver sem religiões para
buscar a felicidade, respeitar o próximo e constituir uma sociedade baseada em
valores morais coletivos e ainda assim com respeito às individualidades?
Uma religião pode revelar um
caráter opressor, acusador e perseguidor, onde a liberdade de opinião daqueles
que não fazem parte do mesmo ciclo é ferida a partir de argumentos pouco
válidos e disfarçados sob o manto da tolerância. Uma religião não
necessariamente indica todas essas qualidades, porém é através dos grupos
religiosos que demonstra o pior lado de sua face. Desde os primórdios a
religião está atrelada à política e a vida financeira das pessoas, isto é
irrefutável e pode ser observado seja na antiguidade ou atualidade. Quando não
ocupava o poder estava junto à ele, interferindo nas decisões e monitorando o
comportamento da sociedade que liderava.
Vejamos alguns fatos históricos
onde a religião foi a razão, ou usada como pretexto, para violar o direito das
pessoas, torturar e matar.
As Cruzadas: Foram
ações militares religiosas contra a Palestina e Jerusalém com o objetivo de
submetê-las ao domínio cristão. Supostas 9 cruzadas fizeram vítimas durante
quase dois séculos de conflito. Cerca de 70 mil pessoas foram mortas apenas na
primeira cruzada;
Guerra dos Trinta Anos: A guerra começou como um conflito religioso no século XVII e foi tomando
feições mais complexas até ninguém saber mais por que estava brigando.
Originado pelas rivalidades entre cristãos católicos e protestantes (iniciado
com a reforma de Lutero e Calvino) rendeu entre 3 milhões e 11,5 milhões de
mortes. A população alemã caiu 20% durante a guerra; em algumas regiões esse
declínio chegou a 50% pois vilas inteiras sumiram;
Massacre de São Bartolomeu: A
noite do dia 23 de agosto de 1572 foi marcada por um sangrento conflito entre
cristãos católicos e cristãos protestantes onde cerca de 3 mil pessoas foram
mortas. Estima-se que entre 30 mil e 100 mil tenham sido vitimadas nos meses
seguintes;
A Colonização da América: Os
povos indígenas são os verdadeiros representantes desse continente que veio a
ser chamado de América, onde os conquistadores europeus utilizaram de métodos
perversos para subjugar o povo vermelho. Escolher entre a cruz e a espada eram
as alternativas à disposição dos conquistados. Tiveram seus templos destruídos
e substituídos por igrejas cristãs, as estátuas de seus deuses transformadas em
pó, suas roupas, lendas e tradições ridicularizadas; foram escravizados, e por
vezes castigados diante dos risos da nobreza e de religiosos. A conquista da
América representava para igreja, além de um avanço econômico, a propagação do
cristianismo no mundo e não é difícil perceber como nossa sociedade vive os
frutos dessa barbárie.
Entretanto,
não precisamos ir muito longe historicamente para entender o quanto a religião afeta
negativamente a sociedade, o presente carrega o legado da intolerância dogmática.
Mulheres, pretos, homossexuais, ateus e agnósticos conhecem bem o significado da
segregação e perseguição religiosas. A ideologia cristã é contradita com
qualquer fato que destaquemos atual ou historicamente. Segundo a história
cristã, Cristo pregava o amor aos inimigos, o acolhimento aos necessitados, a
revelação do reino dos céus aos que distam deles, e o que vemos hoje é uma
garra de preconceitos, autoritarismos e segregações imposta, essencialmente, por
cristãos protestantes. Existe no congresso brasileiro, um estado dito
laico, uma “bancada religiosa”, que pretende impor suas conjecturas a toda a
sociedade. Um dos partidos que formam essa “organização” é o Partido Social Cristão (PSC) utiliza
sua interpretação a respeito de uma filosofia religiosa para exigir normas para
toda a população brasileira, mas afirma que o "partido não é
religião". Sendo anunciado por discursos como "depois de Deus, o ser
humano em primeiro lugar", que desprestigiam aqueles que possuem uma
crença diferente da sua, tem conseguido algumas representações na política
nacional. Através de Silas Câmara (deputado federal) apresentou proposta para
criação do cargo de capelão parlamentar para cada início de sessão na Câmara
dos Deputados, abrindo-as com alguma oração, violando a constituição nacional.
Silas Câmara responde a processos por apropriar-se do salário dos funcionários
de seu gabinete, improbidade administrativa, ilegalidade em campanha eleitoral
e abuso de poder. "Pessoas de religiões perseguidas por esses
evangélicos, bem como ateus e agnósticos, pessoas LGBT, cristãos de
denominações mais inteligentes e inclusivas, gente que ama as liberdades civis
e odeia os fascismos não pode - em sã consciência - votar em candidatos de um
partido desses", afirma Sergio Viula, que critica o projeto de lei do
deputado estadual Édino Fonseca (PSC) que prevê o custeio de tratamento
psicológico para pessoas interessadas em ''virar heterossexuais''. O texto,
condenado por psicólogos e psiquiatras, já passou por três comissões na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro. Um arauto da religiosidade atual são os
“pop-stars de Cristo”, onde pastores e padres aventuram-se no mundo da música
num mercado de lucros às custas do “nome do senhor”, dessa espécie de negócios.
Não estão mentindo quando dizem: “Jesus Salva!”.
O Fundamentalismo Cristão esteve por
detrás “da maioria dos atos de violência cometidos nas mais variadas latitudes
geográficas do mundo. É nos Estados Unidos de hoje que encontramos o maior
contingente de fundamentalistas, só que cristãos. Os pastores das igrejas
batistas, presbiterianas, episcopais e adventistas apontaram seu dedo acusador
para o pecado da modernidade. Os fundamentalistas se ergueram fundando a WCFA
(World's Christian Fundamentals Association), em 1919; atribui-se a eles a aprovação
da conhecida Lei Seca de 1920 que proibiu a bebida alcoólica nos EUA. Se
tornaram íntimos do poder, cometeram vários atentados e assassinatos contra
funcionários e médicos de clinicas de aborto, se posicionaram contra as mais
recentes experiências com a reprodução artificial e a favor da introdução da
reza obrigatória nas escolas públicas, contra a Emenda de Emancipação da mulher
e, mais ainda, contra os direitos dos homossexuais. No campo das ideias
empenham-se para que as escolas ensinem o criacionismo, a teoria da evolução de
Darwin eles consideram como demoníaca. Quem mais lhes deu espaço, a
autodesignada Maioria Moral, foi o Presidente Ronald Reagan (1981-89) que os
considerava úteis na mobilização anticomunista, e também como instrumento para
bloquear as leis liberalizantes dos seus adversários do Partido Democrata”
(texto de Voltaire Schilling, Professor de História e Mestrando na UFRGS).
Não existe firmeza suficiente na maioria
dos seres humanos para discernir entre o respeito a sua escolha e o fanatismo
que assola a maioria dos cultos e credos do mundo. As massas não são instruídas
a compreender que sua escolha é tão legítima quanto a de outros, cuja
trajetória conduz a outra crença ou ainda à ausência de crenças, pois essa
concepção não é interessante aos “negócios” de seus respectivos líderes, visto
que religião é negócio desde sempre e, apesar dos discursos aparentemente
contrários, essa posição apenas se consolidada com o tempo. No filme Coração Satânico há uma frase muito
pertinente a esse assunto, dita pelo personagem Louis Cyphre: “Há religiões
suficientes para os homens se odiarem, mas não o bastante para se amarem”.
Nota: Sendo a religião dominante no Brasil, tornou-se inevitável que o cristianismo tenha sido
tomado como referência na maioria das ideias expostas.
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